sábado, 15 de novembro de 2008

O Crisma: catequese para adultos

As edições Paulinas publicaram em 2000 o pequeno opúsculo O Crisma: catequese para adultos, uma adaptação para Portugal de Catequese para adultos – O Crisma, publicado no Brasil em 1995.

É um dos muitos materiais disponíveis para preparação imediata do Crisma, mas não satisfaz.

Olhando para a capa e depois folheando, a primeira impressão com que ficamos é de que este não é um material para adultos, como propõe o título, pois o grafismo é de todo muito infantil, mas lendo a introdução vemos que de facto este é um material destinado a “si que por qualquer circunstância, não tenha sido crismado na adolescência”. Logo, é um material destinado para adultos, podemos concluir. Lendo com alguma atenção rapidamente ficamos convencidos do contrário. Os conteúdos são apresentados de uma forma bastante simples, o que em certos casos pode até mesmo ser encarado como uma ofensa à inteligência do leitor, na medida em que a infantiliza.

Falta também a este livro uma componente prática, pois apesar da sua simplicidade, tudo se processa de forma muito teórica, faltando o contacto real com aquilo que é teorizado. As experiências práticas apresentadas são desadequadas, pois dizem respeito ao contexto brasileiro tão distante do nosso.

Este material peca ainda pela sua brevidade. Pretende preparar o crisma muito rapidamente, o que leva a que se excluam algumas temáticas de suma importância, como a História da Igreja, a sua Doutrina Social, a Escatologia e a Sacramentologia. Além disso, sabemos bem que este tipo de subsídios que pretendem simplificar ao máximo não proporcionam uma verdadeira conversão, pelo que o Crisma acaba por se tornar aqui num ritual desligado do seu verdadeiro sentido.

Concluindo, podemos dizer que O Crisma: catequese para adultos não é o material mais adequado para quem se prepara para celebrar o Crisma, pois é bastante incompleto e pouco rigoroso. No entanto pode ser um material a ter em conta, não para ser usado em exclusivo, mas como complemento, se bem que com as devidas adaptações ao nosso contexto concreto. 

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

O Crisma - Análise

Apesar de variados documentos do Magistério da Igreja apontarem a catequese de Adultos como uma prioridade pastoral, ainda assim ela não se encontra suficientemente potenciada e aprofundada. Os recursos humanos e os materiais de apoio têm versado antes a catequese da adolescência e da infância. Por isso, encontrar itinerários de fé para os adultos não é tarefa fácil.
As Edições Paulina lançaram, em Setembro de 2000, o livro “Catequese para adultos – O Crisma” que pretende, tal como o título indica, auxiliar numa preparação prévia ao sacramento do Crisma. Mas será que isto corresponde às necessidades da Catequese de Adultos? Creio que não.
Em primeiro lugar, este tipo de subsídios, ao estilo de “comprimido de acção rápida”, não promove, ao que tudo indica, uma verdadeira conversão. O objectivo não é tanto transmitir um conjunto de noções intelectuais, mas sim promover a conversão, ou seja, o encontro pessoal, íntimo e duradoiro com Cristo. Títulos como “vamos estudar” ou “para pensar e trabalhar” indicam isso mesmo.
Em segundo lugar, os conteúdos do livro parecem não estar “sintonizados” com o público a que se destinam. Quer-se dizer que os conteúdos são apresentados de um modo bastante juvenil, deixando transparecer a ideia que se os adultos pararam na sua caminhada, então é necessário transportá-los novamente para o ponto onde pararam. Ora, isto colide frontalmente com os princípios da andragogia e infantiliza os adultos. Sessões como “Cristo, o grande amigo” ou “Sou Cristão” parecem transportar-nos para a infância, ou ainda os logótipos para abrilhantarem o olho.
Em terceiro lugar, o livro não promove uma experiência de inserção na comunidade, algo fundamental para a continuidade dos crismandos e para a experiência de cristão. De que vale ter como objectivo “Tomar consciência da nossa responsabilidade como membros da Igreja”, se apenas tudo é processado no intelecto, através da leitura de textos, e isso não transforma no interior?
Em quarto lugar, este livro poderia aprofundar alguns temas que impliquem os adultos, temas que os inquietam no dia-a-dia: a salvação, sentido para a vida, economia, moral, etc.
No fundo, podemos concluir que este livro está desajustado tanto aos objectivos que se propõe como às necessidades da Igrejas. Será que existe algum livro ideal? Também me parece que não. A solução poderá passar pela elaboração de conteúdos mais abrangentes, adaptados aos anseios do seres humanos de hoje, e depois segundo as várias realidades onde serão utilizados, há necessidade de adaptar e construir o itinerário de fé. Cada comunidade, cada pessoa é singular… e o itinerário deve estar em sintonia com esta premissa. Receitas perfeitas não existem.

Análise e sugestões a propósito de "O Crisma"

Mais do que fazer a análise crítica do material, onde o grafismo e a interacção com o utilizador é bastante infantil, importa tentar ver no que este material nos pode ajudar na formulação de uma formação de adultos devidamente estruturada.
Começando pelo que não se deve repetir, este material foi idealizado para o contexto da América-Latina, com uma vivência cultural e religiosa muito diferente da nossa realidade Ocidental. Chamo a exemplo a utilização de dados específicos das conferências episcopais de países sul-americanos, e a referência implícita à teologia da libertação. Posto isto é importante que a experiência humana invocada na formação de adultos parta da própria experiência humana dos formandos, e por isso deve sair do seu contexto social, e porque não mesmo do seu contexto eclesial, das suas experiências religiosas.
O material está estruturado em seis encontros, mas a sua brevidade não deve ser desculpa para não abordar temas que devem fazer parte de uma formação de adultos válida. Uma formação de adultos deve passar por temas como a Doutrina Social da Igreja (a sua forma de relação com a sociedade), a Escatologia (o sentido que a nossa vida pode ter quando orientada para o Pai), os Sacramentos (tanto os da Iniciação Cristã como os de Serviço).
Concluindo, é positivo que este tipo de materiais cheguem até nós, mas é necessário que esse material seja sujeito a uma aculturação ao contexto onde vai ser usado, e que responda às necessidades reais dos formandos.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Conclusões da análise crítica ao livro «O Crisma - Catequese para adultos»

SECTOR DE CATEQUESE REGIONAL NORDESTE V, O Crisma.Catequese para adultos, 3ª ed. (1ª ed. no ano 2000), Paulinas, Lisboa 2002.

Após a leitura do livro O Crisma – Catequese para adultos, concluímos que, apesar de pretender ir ao encontro de um dos princípios fundamentais da andragogia – ter em conta a experiência dos adultos em formação, de modo a que se sintam motivados – não o consegue realmente.
Os títulos atribuídos a cada encontro – como «Cristo, o Grande Amigo», do segundo – e a própria estrutura de cada encontro, dividido em partes como «Vamos estudar», utilizam uma terminologia mais adaptada à adolescência, inadequada à idade adulta e até mesmo infantilizante. O mesmo podemos dizer do grafismo e do conteúdo do texto: os exemplos dados são desajustados à idade e muito provavelmente às diferentes situações de vida das pessoas que utilizarão o livro – veja-se, por exemplo, a «história» contada no segundo encontro: «Joaquim foi trabalhar numa fábrica como chefe dos mecânicos». Estas experiências da vida concreta dos formandos são importantes mas devem realmente estar relacionadas com a vida deles, para que se sintam tocados. Por isso, nos encontros com adultos, é melhor não ir com uma experiência predefinida. Deve-se também ter em conta que experiências de fé são também experiências de vida que não se devem ignorar.
No final do terceiro encontro, na rúbrica «Para rezar», deparamo-nos com uma dinâmica de proselitismo desnecessário: «Faça uma oração ao Espírito Santo, pedindo-lhe que o ajude a trazer mais pessoas para o seio da Igreja». É importante que não seja esta a mentalidade da Igreja, como algum partido político que pretende arrecadar o maior número possível de militantes ou de votos ou algum estabelecimento comercial que faz publicidade de modo a ter o maior número possível de clientes para obter lucros e enfrentar a concorrência. Hoje, a Igreja deve pensar de outra forma: «nós temos um bom produto; se não o queres, o prejudicado és tu!».
Os encontros propostos neste livro parecem demasiado breves e não abordam aspectos fundamentais na formação cristã de adultos como a Doutrina Social da Igreja – a nossa relação actual uns com os outros, com os bens e com o mundo –, os sacramentos de compromisso social – incluindo as vocações religiosas e consagradas –, a protologia, a História da Salvação e, sobretudo, a escatologia.
Além disso, ao concluirmos a leitura do livro podemo-nos perguntar: onde está o compromisso que se leva destes encontros para a vida? Com tão poucos encontros haverá tempo para a conversão? Que caminho se faz para a inserção na comunidade? Há portas que incentivem esta entrada na comunidade? – tenha-se em conta que os movimentos apostólicos são imprescindíveis para que se faça mais alguma coisa na comunidade que não apenas ir à missa, facto que leva a que muitas vezes a motivação se esvazie e os cristãos desistam da comunidade. E ainda: com que critérios pode o catequista avaliar a evolução da pessoa? Será que os formandos se encontram bem preparados para receber o sacramento da Confirmação? Os objectivos propostos para cada encontro são demasiado subjectivos.
Concluindo: não há materiais bons para catequeses de adultos. No entanto, haverá certamente melhores e piores. A presente obra não parece ser a mais adequada para a preparação de adultos que se propõem assumir e declarar a maturidade da sua fé perante a Igreja e a comunidade através do sacramento da Confirmação.

Luís Eugénio Couto Baeta
30 de Outubro de 2008

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

O Crisma - Análise do Material



Autor: Sector de Catequese Regional Nordeste V
ISBN: 978-972-751-353-6
Nº Páginas: 32
Formato: 12x18,5
Peso: 60 gr.
Edição: 5


O Crisma é chamado de sacramento da maturidade cristã, pois ao recebê-lo o cristão confirma a promessa feita no Baptismo de que seria profeta e testemunha de Jesus e da sua doutrina. Quando somos crismados, recebemos a acção do Espírito Santo, que revigora a nossa fé e a nossa força, tornando-nos anunciadores do Evangelho, com plena fidelidade ao novo mandamento de Jesus: o amor ao próximo. É o que este livro ensina àqueles que se preparam para receber o sacramento do Crisma.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Segundo Encontro - Apontamentos

Princípios da andragogia


Para que exista uma verdadeira formação cristã de aprofundamento, que não deve ser confundida com catequese, a sua estrutura não deve ser tendencialmente gnoseológica, mas deve procurar tocar a inteligência, a vontade e o afecto.
O ensino tradicional, que a Igreja começou, e onde foram desenvolvidos alguns princípios da pedagogia, como o memorizar, o repetir e o avaliar, não se adequam a esta formação de adultos, que está centrada em dois pólos, o que aprende e o que ensina.
No contexto dos adultos o local de aprendizagem é a experiência, e é desta que deve partir a sua motivação. Qualquer catequese de adultos tem que partir da experiência. As principais ferramentas de que um formador de adultos se pode valer são a humildade e a verdade.
A aprendizagem deve ser democrática, funcionando numa base de proposta e escolha por parte do grupo. A experiência humana deve ser convocada e sobre esta são apresentados novos dados que permitam um novo olhar sobre a experiência. Na formação de adultos os dados da Revelação devem ser introduzidos para que a experiência humana seja reavaliada. No final deste processo tem um papel importante a síntese.
Este método é um pouco parecido com o que era usado na Acção Católica: o ver; julgar; agir.
Para o adulto é importante apresentar a importância do que vai aprender para a sua vida, e ter sempre presente que a sua presença é voluntária.
A motivação é maior se partirmos da sua experiência, a sua maneira de aprender é a prática, especialmente através de tarefas, jogos didácticos, dinâmicas. O esquema seguido pode ser sintetizado assim: Experiência; Aprendizagem; reorganização da Experiência. O adulto está predisposto a aprender aquilo que julga ser importante.
O convite para a formação de adultos deve ser interessante.
Alguns dos problemas levantados na formação de adultos prendem-se com a linguagem e os conceitos, os quais devem ser introduzidos de forma a ficarem clarificados.
A orientação da aprendizagem dever ser dada pela experiência, pois pode já haver uma experiência religiosa, mas que muitas vezes não é cristã, onde deve ser proposta a novidade do Evangelho.
Para encontramos, em Igreja, métodos capazes para esta formação de adultos devemos socorrermo-nos das ciências humanas e das boas práticas, estejam onde estiverem.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Primeiro encontro - apontamentos

Quando alguém é confrontado com a necessidade de definir “Catequese de adultos”, muitas vezes ela é descrita com uma abrangência algo parca. E, talvez mais grave, ela é compreendida nos moldes da catequese de infância ou adolescência, com os mesmos objectivos e métodos de trabalho.
Assim, quando falamos em catequese de adultos, podemos abrir os horizontes para a vermos como: 1) Catecumenado; 2) Formação permanente; 3) Formação de Aprofundamento; 4) Formação Eventual; 5) Catequese do recomeçar.

No que concerne ao itinerário do catecumenado, todo ele se encontra explicitado no RICA. Trata-se de um percurso gradativo, com várias fases e momentos próprios, e que pode terminar após três anos. Durante este período, o candidato tem oportunidade de ser introduzido nos princípios que orientam o cristianismo, através de várias catequeses, e ainda de fazer a experiência de comunidade.

No âmbito da formação permanente, ela concretiza-se em várias dimensões. Numa perspectiva pastoral, a homília dominical surge como um momento fundamental. Na verdade, toda a liturgia, ao mesmo tempo que é celebrada, poderá também ela ser escola de formação. A par das homilias, surgem outras circunstâncias: os tríduos, pregações ou ainda a valorização dos tempos fortes na liturgia, mormente o advento e a quaresma. Por fim, podemos ainda olhar para encontros periódicos de formação como fazendo parte deste tipo de formação.

A formação de aprofundamento concretiza-se em acções de formação como cursos bíblicos, cursos de teologia ou teológico-pastoral, etc. O mesmo é dizer que se trata de uma formação mais prolongada no tempo.

A formação eventual ocorre principalmente enquanto preparação prévia de sacramentos ou celebrações. Em termos pastorais, este tipo de formação acaba por ser o mais recorrente, principalmente nas formações prévias para o matrimónio e baptismo. Há, contudo, ainda outras ocasiões que podem ser exploradas: preparação para o sacramento da reconciliação ou ainda para a unção dos enfermos.

A catequese do recomeçar é aquela catequese de adultos destinada àqueles que tendo tido parte ou na totalidade da iniciação cristã na infância e adolescência, se afastaram e viveram como pagãos. Por qualquer motivo, querem viver de novo a adesão a Jesus Cristo, e com os quais é preciso fazer como que um catecumenado, sem ignorar os sacrametnos que já celebraram.

Quando olhamos para a realidade do mundo, de facto parece pertinente e necessário apostar na catequese de adultos. A Igreja vive uma nova realidade ao deparar-se com o crescente número de cristãos baptizados na infância e que, por múltiplas razões, se afastaram da Igreja. Posteriormente, por alguma razão, decidem voltar à comunidade e pedem-lhe ajuda para recomeçaram um novo itinerário de fé.
Isto implica ter agentes de pastoral qualificados para lidar com esta nova realidade, implica a existência de catequistas com métodos adequados e uma proposta de itinerário de fé adequado à nova realidade.
De facto, os documentos da Igreja reflectem muito sobre a catequese de adultos, mas os problemas que tantas vezes surgem nos encontros com os catequistas prendem-se com a infância ou adolescência. O mesmo é dizer que a reflexão e as linhas de acção propostas nos documentos não encontram eco na realidade.
Outra proposta no âmbito da catequese de adultos seria a da catequese intergeracional. Sendo que, na realidade, a catequese em Portugal encontra-se focada essencialmente para a infância e juventude, a catequese em família seria uma proposta para envolver os mais velhos. Ora, neste tipo de catequese, toda a família faz catequese, não só as crianças ou jovens. O itinerário seguido é o itinerário litúrgico porque é o único que congrega toda a família em terno de um tema comum. Assim, vai-se falando, agindo e comprometendo ao ritmo do Domingo. E quando alguém se sentir preparado, então propõe-se para os sacramentos.
De tudo quanto foi dito, importa realçar que é cada vez mais necessário abrir horizontes quando se fala em catequese de adultos. Ela segue um itinerário diferente do das crianças e com métodos diferentes (andragogia).