quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Conclusões da análise crítica ao livro «O Crisma - Catequese para adultos»

SECTOR DE CATEQUESE REGIONAL NORDESTE V, O Crisma.Catequese para adultos, 3ª ed. (1ª ed. no ano 2000), Paulinas, Lisboa 2002.

Após a leitura do livro O Crisma – Catequese para adultos, concluímos que, apesar de pretender ir ao encontro de um dos princípios fundamentais da andragogia – ter em conta a experiência dos adultos em formação, de modo a que se sintam motivados – não o consegue realmente.
Os títulos atribuídos a cada encontro – como «Cristo, o Grande Amigo», do segundo – e a própria estrutura de cada encontro, dividido em partes como «Vamos estudar», utilizam uma terminologia mais adaptada à adolescência, inadequada à idade adulta e até mesmo infantilizante. O mesmo podemos dizer do grafismo e do conteúdo do texto: os exemplos dados são desajustados à idade e muito provavelmente às diferentes situações de vida das pessoas que utilizarão o livro – veja-se, por exemplo, a «história» contada no segundo encontro: «Joaquim foi trabalhar numa fábrica como chefe dos mecânicos». Estas experiências da vida concreta dos formandos são importantes mas devem realmente estar relacionadas com a vida deles, para que se sintam tocados. Por isso, nos encontros com adultos, é melhor não ir com uma experiência predefinida. Deve-se também ter em conta que experiências de fé são também experiências de vida que não se devem ignorar.
No final do terceiro encontro, na rúbrica «Para rezar», deparamo-nos com uma dinâmica de proselitismo desnecessário: «Faça uma oração ao Espírito Santo, pedindo-lhe que o ajude a trazer mais pessoas para o seio da Igreja». É importante que não seja esta a mentalidade da Igreja, como algum partido político que pretende arrecadar o maior número possível de militantes ou de votos ou algum estabelecimento comercial que faz publicidade de modo a ter o maior número possível de clientes para obter lucros e enfrentar a concorrência. Hoje, a Igreja deve pensar de outra forma: «nós temos um bom produto; se não o queres, o prejudicado és tu!».
Os encontros propostos neste livro parecem demasiado breves e não abordam aspectos fundamentais na formação cristã de adultos como a Doutrina Social da Igreja – a nossa relação actual uns com os outros, com os bens e com o mundo –, os sacramentos de compromisso social – incluindo as vocações religiosas e consagradas –, a protologia, a História da Salvação e, sobretudo, a escatologia.
Além disso, ao concluirmos a leitura do livro podemo-nos perguntar: onde está o compromisso que se leva destes encontros para a vida? Com tão poucos encontros haverá tempo para a conversão? Que caminho se faz para a inserção na comunidade? Há portas que incentivem esta entrada na comunidade? – tenha-se em conta que os movimentos apostólicos são imprescindíveis para que se faça mais alguma coisa na comunidade que não apenas ir à missa, facto que leva a que muitas vezes a motivação se esvazie e os cristãos desistam da comunidade. E ainda: com que critérios pode o catequista avaliar a evolução da pessoa? Será que os formandos se encontram bem preparados para receber o sacramento da Confirmação? Os objectivos propostos para cada encontro são demasiado subjectivos.
Concluindo: não há materiais bons para catequeses de adultos. No entanto, haverá certamente melhores e piores. A presente obra não parece ser a mais adequada para a preparação de adultos que se propõem assumir e declarar a maturidade da sua fé perante a Igreja e a comunidade através do sacramento da Confirmação.

Luís Eugénio Couto Baeta
30 de Outubro de 2008

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