sexta-feira, 31 de outubro de 2008

O Crisma - Análise

Apesar de variados documentos do Magistério da Igreja apontarem a catequese de Adultos como uma prioridade pastoral, ainda assim ela não se encontra suficientemente potenciada e aprofundada. Os recursos humanos e os materiais de apoio têm versado antes a catequese da adolescência e da infância. Por isso, encontrar itinerários de fé para os adultos não é tarefa fácil.
As Edições Paulina lançaram, em Setembro de 2000, o livro “Catequese para adultos – O Crisma” que pretende, tal como o título indica, auxiliar numa preparação prévia ao sacramento do Crisma. Mas será que isto corresponde às necessidades da Catequese de Adultos? Creio que não.
Em primeiro lugar, este tipo de subsídios, ao estilo de “comprimido de acção rápida”, não promove, ao que tudo indica, uma verdadeira conversão. O objectivo não é tanto transmitir um conjunto de noções intelectuais, mas sim promover a conversão, ou seja, o encontro pessoal, íntimo e duradoiro com Cristo. Títulos como “vamos estudar” ou “para pensar e trabalhar” indicam isso mesmo.
Em segundo lugar, os conteúdos do livro parecem não estar “sintonizados” com o público a que se destinam. Quer-se dizer que os conteúdos são apresentados de um modo bastante juvenil, deixando transparecer a ideia que se os adultos pararam na sua caminhada, então é necessário transportá-los novamente para o ponto onde pararam. Ora, isto colide frontalmente com os princípios da andragogia e infantiliza os adultos. Sessões como “Cristo, o grande amigo” ou “Sou Cristão” parecem transportar-nos para a infância, ou ainda os logótipos para abrilhantarem o olho.
Em terceiro lugar, o livro não promove uma experiência de inserção na comunidade, algo fundamental para a continuidade dos crismandos e para a experiência de cristão. De que vale ter como objectivo “Tomar consciência da nossa responsabilidade como membros da Igreja”, se apenas tudo é processado no intelecto, através da leitura de textos, e isso não transforma no interior?
Em quarto lugar, este livro poderia aprofundar alguns temas que impliquem os adultos, temas que os inquietam no dia-a-dia: a salvação, sentido para a vida, economia, moral, etc.
No fundo, podemos concluir que este livro está desajustado tanto aos objectivos que se propõe como às necessidades da Igrejas. Será que existe algum livro ideal? Também me parece que não. A solução poderá passar pela elaboração de conteúdos mais abrangentes, adaptados aos anseios do seres humanos de hoje, e depois segundo as várias realidades onde serão utilizados, há necessidade de adaptar e construir o itinerário de fé. Cada comunidade, cada pessoa é singular… e o itinerário deve estar em sintonia com esta premissa. Receitas perfeitas não existem.

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